segunda-feira, 30 de março de 2009

Gentileza no fundo do barril


Ele já chamou o Ceará de Pernambuco em pleno discurso no Porto do Pecém, no ano passado. E também não é raro tirar jornalistas de tempo com seu jeitão firme, aparentemente pouco afeito às gentilezas gratuitas. Estou falando de Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras. É um grande líder, isso é fato. Afinal de contas, está à frente de uma das empresas mais poderosas do Brasil.


Na semana, durante entrevista coletiva após participar de audiência pública no Senado, Gabrielli soltou um grosseiro “Porque não subiu. O que não sobe, não baixa”, referindo-se ao preço dos combustíveis no País, que não tem acompanhado a queda do preço do barril do petróleo no mercado internacional.


O fato é que quem abastece pagando um valor altíssimo pelo combustível, como acontece no Brasil, não se contenta apenas com a explicação fria de Gabrielli. A grande curiosidade de muita gente está em entender como os preços dos combustíveis podem se manter no mesmo patamar de quando o barril do petróleo estava cotado a US$ 147, há cerca de um ano atrás. Esse preço caiu e há alguns meses vem sendo cotado na casa dos US$ 50. Na cabeça do consumidor, existe a ideia de que se baixou por lá, o natural seria baixar por aqui também. Mas tudo depende de conjunturas e especulações que vão além da nossa compreensão.


Alguns analistas defendem que já é possível falar em uma certa estabilidade no preço da commodity. No entanto, ao que tudo indica, a Petrobras desenha sua própria lógica e tem agido com cautela.


É que o preço do petróleo no Brasil é definido como uma margem de composição da Petrobras levando em conta os custos de produção, o que ajuda evitar prejuízos em caso de oscilações mais fortes e inesperadas no preço internacional. Em outras palavras, a variação do preço dos combustíveis não acompanha na mesma proporção as variações do preço do barril no mercado internacional.


Mas com todo respeito, “o que não sobe, não baixa” é uma resposta que deixa qualquer gentileza no fundo do barril. (Fonte: O Povo, 2009-03-28).

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