Não foram poucos os casos de derramamento de petróleo que se tornaram ameaça à natureza e ao ecossistema em diversos locais do mundo. Atualmente, com a descoberta da camada pré-sal e sua exploração pela Petrobras, é ainda maior o risco destes acidentes acontecerem em águas brasileiras.
Focados na preservação do meio ambiente, o professor Fernando Gomes de Souza Junior e um grupo de pesquisadores do Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano (Ima), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolveram, com o apoio da FAPERJ, um método simples, barato e eficaz de remoção de petróleo, que tem origem no Líquido da Castanha de Caju (LCC) e no óleo da mamona, matérias-primas renováveis e abundantes no país.
- A contaminação da água com óleo, infelizmente, é um problema comum, pois o petróleo é, geralmente, transportado por longas distâncias em vias marítimas. Com este projeto, pretendemos minimizar o impacto ambiental, utilizando recursos naturais renováveis e mais eficazes para reter derramamentos acidentais - reforça o pesquisador.
O LCC é amplamente exportado e também utilizado no Brasil para diversas finalidades, como antioxidantes para combustíveis e lubrificantes.
- Há alguns anos, no laboratório, começamos a trabalhar com um plástico produzido com o líquido da castanha de caju para mudar as propriedades de um polímero. Então, percebemos que a estrutura química do LCC é muito parecida com a do petróleo e que, por suas características, poderiam se atrair, fato que foi comprovado depois em alguns testes que fizemos - revela Fernando.
A atração do plástico de LCC com o petróleo acontece porque a natureza química do principal componente do líquido da castanha de caju, o cardanol, tende a interagir com os materiais aromáticos e alifáticos que compõem o líquido negro.
Da mesma forma, os pesquisadores descobriram que a glicerina que sobra do biodiesel produzido a partir da mamona também pode atingir o mesmo objetivo.
- Este é outro material que temos em grande quantidade, há toneladas dele sobrando sem uma finalidade. O procedimento com a glicerina é o mesmo que utilizamos com o LCC. Embora a resina produzida com a mamona não seja igual à da castanha de caju, ao introduzirmos grupos aromáticos, criamos com ela um plástico de comportamento similar - explica o pesquisador.
Após constatar a eficácia do material produzido, Fernando e sua equipe precisaram elaborar como ele seria retirado da água junto com o petróleo.
- Depois de a resina ter atraído o petróleo, pensamos em peneirá-la, mas constatamos que, desta forma, perderíamos tempo e eficiência e recairíamos no mesmo método das remoções já existentes. Então, tivemos a idéia de misturar a este plástico nanopartículas magnéticas, as maghemitas, para que a remoção do material com o petróleo fosse feita pela ação de campo magnético - revela o pesquisador.
Uma vez combinada às maghemitas, a resina produzida é triturada até virar um pó para que a sua área de atuação seja ainda maior.
O material é fabricado no Laboratório de Biopolímeros e Sensores do Instituto de Macromoléculas da UFRJ. O líquido da castanha de caju ou a glicerina do biodiesel da mamona são adicionados em um balão onde há um fluxo constante de nitrogênio. Depois são adicionados catalisadores que promovem a polimerização deste material.
Antes que o processo seja concluído, são adicionadas nanopartículas magnéticas à massa dentro do balão, o que resulta em um material polimérico magnetizável. É neste mesmo laboratório onde são realizados os testes de remoção, em escala de bancada, com água do mar, petróleo fornecido pela Petrobras e as resinas magnéticas.
- Até agora trabalhamos em escala de bancada, retirando de 20 a 50 gramas de petróleo da água, com um ímã. O próximo passo será construirmos um tanque para testarmos remoções de porte maior.
Além de a resina para a retirada do petróleo ser feita a partir de matérias-primas renováveis e, por isso, não produzir resíduos poluentes, ela tem custo baixo de produção.
- A quantidade relativa de material utilizado para retirar o petróleo da água é relativamente pequena, pois um grama desta resina consegue retirar, com facilidade, de cinco a oito gramas do óleo da água. É um material muito barato e fácil de fazer, e vem de recursos renováveis muito disponíveis em nosso país, que são o caju e a mamona - afirma o pesquisador.
Geralmente, os métodos utilizados para a remoção do petróleo são por sucção da área contaminada, uso de grandes esponjas para absorverem o óleo da água, a biorremediação, na qual microorganismos ou agentes biológicos são utilizados para quebrar as moléculas maiores, a queima controlada do local contaminado, entre outras.
Há grandes vantagens da remoção de petróleo com a resina em relação a estas técnicas, pois ela retira completamente o petróleo e não contribui para o aumento da contaminação local.
Fernando e sua equipe também trabalham em outros projetos muito interessantes. Eles transformam fibras naturais, tornando-as materiais milhares de vezes mais condutores que as fibras virgens, sem modificar de forma estatisticamente significativa sua resistência mecânica.
- Assim, como as fibras estão ‘envolvidas’ por uma camada semicondutora, podemos usá-la em sensores de pressão e de temperatura - complementa.
Estas fibras poderão ser utilizadas para criar estofamentos inteligentes, com assentos e colchões capazes de identificar o usuário por processo biométrico, ajustando as condições de temperatura do ambiente, inclinação, ou qualquer outra preferência indicada ou programada pelo usuário.
- Na área médica, por exemplo, as fibras seriam de grande ajuda para pacientes imobilizados, pois poderiam proporcionar as condições de temperatura e pressão para maior conforto e para evitar feridas de pele, entre outras funções - finaliza o pesquisador.
Veja vídeo do procedimento de retirada do petróleo da água no link: http://www.youtube.com/watch?v=MBV6-UPpLlQ (Fonte: Agência Brasileira de Notícias-ABN, 2009-06-21).
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