A crise financeira que o mundo atravessa actualmente tem origens inéditas associadas à construção de um mundo financeiro virtual sem muita base na realidade produtiva. Essa crise tem raízes na incrível expansão que o mercado de capitais experimentou nas últimas décadas, conduzido por novos e diversificados instrumentos financeiros que permitiram o crescimento exuberante da comercialização de papéis com garantias que nem sempre eram muito claras, mesmo para os próprios economistas e agentes económicos.
A multiplicação de instrumentos financeiros, ao mesmo tempo que introduziu novas formas de investimentos, não só consumiram recursos financeiros que de outra forma seriam aplicados no sistema produtivo, como também aumentou o risco intrínseco do sistema sem que isso tivesse sido claramente entendido pela comunidade financeira e governos. O diagrama abaixo sumariza as origens e consequências da crise sobre uma economia análoga à angolana.
A perda de confiança nas instituições financeiras varreu o mundo e trouxe consigo um crescimento da percepção de risco na avaliação de qualquer projecto de investimento. Essa percepção de risco elevado provoca, por sua vez, um comportamento conservador nos mercados, que se traduz por queda de encomendas, adiamento de projectos e redução das actividades produtivas.
As consequências da crise financeira na economia angolana são diversificadas porque essa é uma economia altamente dependente das receitas petrolíferas, que sofrem impacto directo da desaceleração do crescimento mundial.
Um dos remédios contra a crise que os governos de vários países estão a adoptar, além, é claro, dos pacotes de resgate de empresas insolventes, é a injecção maciça de recursos dos Estados em projectos de infra-estruturas que contribuam para a redução dos custos da economia, aumentem encomendas e mantenham o nível de empregos. Esse tratamento pode não ser aplicável em sua plenitude ao caso de Angola devido às limitações de reservas internacionais disponíveis para investimentos.
Na economia angolana, a maior parte dos investimentos nos sectores não petrolíferos é oriunda de projectos de infra-estrutura e sociais do Governo, cujo orçamento deverá sofrer ajuste considerável em função da variação das receitas petrolíferas, mesmo com a utilização das reservas existentes. Uma retracção real da economia em 2009 não será surpresa.
O impacto potencial da queda dos preços internacionais do petróleo e os cortes de produção orientados pela OPEP são os factores mais importantes a serem compreendidos (Por Renato Pimenta de Azevedo, Fonte: Revista Petroleo, 2009-Janeiro/Fevereiro/Março).
Nenhum comentário:
Postar um comentário