quarta-feira, 27 de março de 2013
O que a OGX fez, de fato, em 2012 – e o que ficou devendo
O ano de 2012 tinha tudo para ser um dos mais importantes para a OGX, a petrolífera de Eike Batista. Foi no ano passado que a companhia extraiu seu primeiro barril de petróleo, entregou a primeira encomenda a um cliente e deixou a fase pré-operacional. Mas os feitos não empolgaram nem um pouco os analistas e investidores.
Os tropeços da OGX corroeram em quase 70% seu valor de mercado, desencadearam uma crise de confiança que contaminou as outras empresas de Eike, e afundaram o empresário do 7º para o 100º lugar na lista dos bilionários da Forbes.
O problemático ano da OGX terá seu desfecho nesta terça-feira, quando ela divulgará seus resultados financeiros referentes a 2012. As prévias de algumas corretoras trazem números nada animadores. É esperada uma perda que pode ultrapassar a cifra de 1 bilhão de reais – sem perspectiva de melhora no curto e médio prazo.
Segundo recente relatório da Planner Corretora sobre a OGX, assinado pelo analista Luiz Caetano, somente no longo prazo, a companhia teria condições de mudar o cenário atual. “Enquanto a empresa não mostrar um nível estável de produção em seus poços, as ações vão ser bastante penalizadas. A prospecção em outras bacias que não foram adequadamente pesquisadas, como a Bacia de Santos, Espírito Santo e Pará-Maranhão, seria uma das possibilidades”, disse o relatório.
Lucas Brendler, analista de petróleo e gás da Geração Futuro, também não vê uma recuperação rápida para a petroleira de Eike. Segundo ele, houve muita frustação com relação às promessas feitas pela OGX, principalmente para o seu primeiro ano como empresa operacional. Veja, a seguir, o que de fato a OGX fez ou deixou de fazer em 2012, depois que extraiu o seu primeiro barril de petróleo:
Fim dos testes de longa duração
Assim que extraiu o seu primeiro barril de petróleo, em janeiro do ano passado, a OGX deu início aos testes de longa duração (TLD), passo necessário para emitir qualquer declaração de comercialidade. Os testes poderiam durar até o fim de junho e, de fato, a companhia de Eike conseguiu cumprir o combinado.
“Atualmente não existe nenhum TLD sendo realizado pela OGX, e os primeiros testes foram finalizados entre os meses de maio e junho do ano passado”, afirmou Brendler.
Declaração de comercialidade
Duas semanas atrás, a OGX devolveu à Agência Nacional do Petróleo (ANP) uma das concessões que tinha para explorar petróleo por problemas de prazos vencidos. Das oito áreas declaradas pela companhia para exploração, somente três tiveram os seus planos de comercialidade declarados. As três áreas estão localizadas na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro.
Segundo relatório do Itaú BBA, assinado pelos analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes, diante de todas as dificuldades recentes enfrentadas pela OGX, as declarações de comercialidade sozinhas não representam um fator positivo. “Acreditamos que apenas a produção pode melhorar a confiança do mercado no portfólio da OGX”, afirmou o relatório.
Nenhum contrato de longo prazo firmado
Durante todo o ano de 2012, a OGX entregou cerca de 2,3 milhões de barris de petróleo a dois diferentes clientes: a Shell e a Reliance Industries, uma das maiores refinarias do mundo e maior empresa privada da Índia, mas não chegou a firmar nenhum contrato de longo prazo com as companhias.
De acordo com Brendler, da Geração Futuro, por se tratar do primeiro ano de operação da companhia, é normal certo receito das empresas de firmarem acordo de longa duração. “O mercado precisa se certificar que as encomendas serão entregues conforme o combinado”, disse o analista.
Escolhas das tecnologias
As escolhas das tecnologias mais apropriadas podem garantir maior eficiência durante a exploração do petróleo. Segundo Brendler, nem todas as tecnologias foram testadas pela OGX durante 2012, e existem ainda algumas alternativas que podem ajudar a companhia na sua exploração.
Poços secos no meio do caminho
A indústria de petróleo sempre trabalha com a possibilidade de encontrar poços secos ou sem viabilidade comercial na fase exploratória. E com a OGX não foi diferente. Durante o seu primeiro ano de produção, até setembro, a empresa de Eike havia acumulado perdas de 460 milhões de reais com os poços improdutivos.
Produção diária
A primeira projeção feita pela OGX em relação à sua produção diária contemplava de 15.000 a 20.000 barris de petróleo por dia. Na prática, a companhia nunca conseguiu cumprir a promessa feita no passado. Atualmente, a produção está estabilizada em 3.800 barris/dia, em seus três poços em operação.
“Com a entrada do terceiro poço, a produção média caiu significativamente. Se nenhuma nova tecnologia for aplicada para tentar melhorar esse desempenho, essa métrica deve perdurar por algum tempo”, afirmou Brendler.
Projeções para 2013
Para este ano, a OGX já havia prometido investir 1,2 bilhão de dólares, sendo 80% desse montante destinados para o desenvolvimento e exploração. O mercado não sabe se a companhia vai conseguir cumprir a promessa feita no ano passado, uma vez que o seu caixa está constantemente sendo colocado em xeque. "Não dá para saber como está o atual fôlego financeiro da companhia", disse o analista.
Fonte: Exame.Abril, 2013-03-26.
http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/o-que-a-ogx-fez-de-fato-em-2012-e-o-que-ficou-devendo?page=3
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