domingo, 19 de setembro de 2010

A descoberta de petróleo em Moçambique


Após alcançar a estabilidade política, os adventos da paz se fazem sentir a todos os níveis na pátria de Samora Machel. Antiga colónia e província ultramarina de Portugal, Moçambique teve a sua independência a 25 de Junho de 1975. Faz parte da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral), da Commonwealth (Associação de Estados e de Territórios Autónomos com forte ligação ao Reino Unido tendo como elo de ligação a língua inglesa), da Organização da Conferência Islâmica e da ONU (Organização das Noções Unidas).

Após a assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma, a 4 de Outubro de 1992, pelo então Presidente da República, Joaquim Chissano, e Afonso Dhlakama, presidente da RENAMO, e por representantes dos mediadores, a Comunidade de Santo Egídio, da Itália, acordo esse que pôs fim a 16 anos de guerra civil, Moçambique passou para uma fase de reconstrução nacional que previa a recuperação de tudo o que foi destruído pela guerra e de recuperação de empresas estratégicas. É neste processo que após várias negociações, a 31 de Outubro de 2006, o Estado português vendeu parte da participação de 82 por cento que detinha no consórcio da barragem de Cahora Bassa, ao Estado moçambicano, por 740 milhões de euros, ficando apenas com 15 por cento do capital. Os restantes 85 por cento passaram a caber ao Estado moçambicano, em troca de 950 milhões de dólares.

O acordo foi assinado entre o Primeiro-Ministro português, José Sócrates, e o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, em Maputo. A última tranche do pagamento devido pelo Estado moçambicano só se realizou a 27 de Novembro de 2007, tendo a cerimónia de reversão do empreendimento para Moçambique sido realizada na vila do Songo, a 28 de Novembro de 2007. Este negócio permitiu aos moçambicanos recuperarem um dos seus maiores símbolos de orgulho nacional.

Para complementar os motivos de alegria, em entrevista ao Semanário Sol, a 17 de Agosto deste ano, a ministra dos Recursos Minerais de Moçambique, Esperança Bias, confirmou a notícia avançada pela ANADARKO Petroleum Corporation, uma companhia norte-americana com sede no Texas, que anunciou a descoberta de petróleo na Bacia do Rovuma, norte de Moçambique, não se sabendo ainda se em quantidades comercializáveis. A expectativa é de que os estudos complementares fiquem prontos ainda neste ano.

Segundo a governante, a presença de petróleo associada ao gás, naquela bacia, foi detectada a uma profundidade de 5100 metros. Esta é a primeira vez que se descobre petróleo offshore na África Oriental.

A notícia foi recebida com algumas reservas por alguns sectores da sociedade civil local. Para alguns especialistas, seria surpresa se a reserva não fosse economicamente viável. Há alguns anos já se tem a informação da presença de gás na região. Se os estudos continuaram, é porque a probabilidade de extracção comercial de petróleo é grande. Mas lembra-se que a vizinha África do Sul já passou pela decepção de encontrar petróleo e não conseguir explorá-lo. “Levar esse petróleo do mar para a terra requer investimentos extraordinários. Se o petróleo for pouco, não vale a pena”, explicou o engenheiro local Inácio Bento.

Segundo a agência Lusa, há quatro anos, a ANADARKO e as autoridades moçambicanas rubricaram um acordo para a abertura de seis furos na Bacia do Rovuma. O petróleo associado ao gás foi descoberto no terceiro furo denominado Ironclad, depois de, no segundo furo, designado Windjammer, aberto em Fevereiro último, a multinacional norte-americana ter anunciado a descoberta de gás em offshore, a uma profundidade de 3600 metros e 147 de espessura.

Para além da ANADARKO, existem mais três empresas a fazerem pesquisa e prospecção de hidrocarbonetos na bacia do Rovuma: a ENI da Itália, PETRONAS da Malásia e a STATOIL da Noruega. A ANADARKO Petroleum Corporation actua em Moçambique desde 2006 e já investiu 300 milhões de dólares nas operações de prospecção. No final do mes de Julho, a companhia anunciou outra descoberta de petróleo em África, nas águas profundas da costa do Ghana, na região de Owo, no Oceano Atlântico.

A Anadarko também faz estudos para localizar petróleo nas formações geológicas parecidas em outros pontos da costa, entre o Ghana, a Costa do Marfim, Serra Leoa e a Libéria. Os investimentos na prospecção de petróleo em Moçambique vão ultrapassar 550 milhões de euros até 2011, de acordo com as projecções apontadas nos contratos do Governo com as multinacionais petrolíferas, estima o Instituto Nacional do Petróleo.

As notícias são animadoras para o Governo moçambicano, que terá certamente o país na rota de grandes empresários interessados em investir em outros sectores da vida civil, como acontece com outros países exportadores de petróleo. É de salientar que já com alguma visão no futuro, o Governo moçambicano autorizou, a 2 de Outubro de 2007, a construção da primeira refinaria de petróleo em Moçambique, destinada a produzir 300 mil barris por dia. A construção teve início no ano de 2008.

Para além das mais recentes estimativas de petróleo, Moçambique possui das maiores reservas mundiais de gás natural. O gás natural moçambicano tem como principal destino o mercado sul-africano. Existe um gasoduto de 865 km que liga os campos de Temane e Pande a Secunda, que têm como missão primária fornecer 80 milhões de Giga Joules de gás natural que servirão para substituir o carvão como matéria-prima das indústrias químicas da SASOL em Sasolburg, para além de o suplementar na unidade de combustíveis sintéticos em Secunda.

O gasoduto é detido pela SASOL e pelos governos de Moçambique e África do Sul - serve igualmente mais de 600 consumidores industriais, nomeadamente siderurgias. É caso para se dizer que a CPLP ganha mais uma perspectiva de crescimento a nível dos recursos naturais o que, aliado à estabilidade política e boa governação das elites dos Estados membros, torna os mercados da mesma em palcos cada vez mais atractivos não só para investimento mas também para propostas de adesão.

(Fonte: Jornal de Angola-SAPO: António Luvualu de Carvalho, 2010-09-19).

Nenhum comentário: