sábado, 31 de janeiro de 2009

Petróleo nosso, um afrodisíaco


Se olharmos o passado, a Petrobras nunca se meteu em aventuras. Sempre foi cautelosa em anunciar descobertas ou o aumento de suas reservas, de forma conservadora. O melhor exemplo disso é o comportamento adotado na questão do petróleo do pré-sal no litoral de Santos.


Em 2001, os levantamentos por satélite do Geological Survey dos Estados Unidos, já apontavam a localização de importantes jazimentos de óleo a grande profundidade na região da bacia de Santos, em volumes que podiam chegar a 30 bilhões de barris.


Desde então a Petrobras se dedicou a pesquisar com mais intensidade a área, atraindo discretamente parcerias privadas nacionais e estrangeiras, até que as perfurações exploratórias confirmaram a existência de óleo e gás em escala comercial.


Os primeiros anúncios oficiais datam de três ou quatro anos atrás, sempre com números conservadores em relação aos volumes mas hoje não é mais segredo que a soma das descobertas comprovadas está em torno de 80 bilhões de barris. Para se ter uma ideia, semana passada o presidente da Exxon (maior empresa mundial de petróleo), que se associou à exploração de uma pequena área de Tupi, deixou o Brasil calculando que tem lá entre 8 e 10 bilhões de barris. É algo equivalente ao que nós temos hoje em reservas.


Há quem levante dúvidas sobre nossa capacidade técnica e quanto às limitações financeiras para a extração, transporte e industrialização do óleo e gás em grandes profundidades e à distância de 200 ou 300 quilômetros da costa. A Petrobras apresentou um programa bem razoável de exploração, equilibrado, que vai atrair investimentos tanto nacionais como do exterior, estimulados pela demanda do setor nos próximos anos.


Quanto aos recursos tecnológicos, a Petrobras tem uma liderança mundial na exploração a grandes profundidades no mar e nossa indústria já alcançou um estágio de sofisticação que lhe permite atender à substanciais encomendas de equipamentos.


O certo é que vai ter uma demanda nova para a fabricação de equipamentos para o setor de petróleo que a nossa indústria terá que atender. Obviamente que uma parte das encomendas será suprida por fabricantes estrangeiros. Acredito que alguns terão que se instalar aqui para aproveitar as oportunidades de um negócio com enorme potencial de crescimento.


Joelmir Betting no jornal da TV Bandeirantes esta semana, com seu habitual senso de humor, referiu-se ao "efeito afrodisíaco" que plano estratégico da Petrobras para 2009/2013 vai exercer na economia brasileira. É uma boutade perfeitamente adequada, pois o programa do pré-sal tem tudo para se tornar o estímulo que faltava para a aceleração do crescimento pelos próximos anos, garantindo à atual geração de brasileiros que o processo não será interrompido nem por crises de energia nem por déficits em conta corrente.


Vai exigir trabalho inteligente - sem afobações ou surtos midiáticos - e paciência necessária para a maturação do programa que deverá atingir a "velocidade de cruzeiro" daqui a seis ou sete anos.


Não vai depender somente da Petrobras, mas principalmente de ajustes na política de juros, para reduzir as atuais taxas dos níveis indecentes que só o Brasil pratica, a alguma coisa próxima a 3% ao ano reais, como existe nos demais países (Fonte: Diário Comércia Indústria, 2009-01-30).

Angolanização em bom ritmo


O processo de angolanização em curso no sector dos petróleos decorre a bom ritmo, de acordo com o ministro dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos, que falava durante a curta visita de trabalho que efectuou no passado fim-de-semana, ao município do Soyo, província do Zaire, para constatar o andamento das obras de construção da fábrica de gás natural liquefeito, a Angola LNG, empreendimento que o governante qualificou de "estrurante nacional, consubstanciados no aproveitmento do gás natural".


O outro benefício que a futura fábrica de gás natural liquefeito pode proporcionar à sociedade, tem a ver com absorção de uma mão-de-obra significativa de angolanos, estimada em cerca de 7.000 postos de trabalho durante a fase de construção. "Até o momento, 2.000 pessoas já trabalham no projecto, 1.500 dos quais, são cidadãos angolanos" afirmou o ministro Botelho de Vasconcelos.


A segunda componente, continuou o governante, "consiste na integração do empresariado nacional na prestação de vários serviços no sector, para tornar o processo da angolanização cada vez mais, uma realidade". No âmbito do projecto Angola LNG, o ministro Botelho Vasconcelos recebeu explicações do director-geral do empreendimento, Paul Oen, e ficou satisfeito com o andamento das obras da construção da fábrica, cujo fim das obras está previsto para o ano de 2012.


O projecto Angola LNG vai processar 5,2 milhões de toneladas de gás natural por ano, 125 milhões de metros cúbicos dos quais se destinam ao consumo interno.


No final da visita, o ministro dos Petróleos explicou o processo de angolanização em curso: "consiste na formação e na integração dos quadros nacionais nas distintas empresas do ramo, entre operadoras e empresas de prestação de serviços, no sentido dos angolanos e expatriados terem as mesmas regalias".


O ministro na sua deslocação ao Soyo estava acompanhado por uma comitiva do seu sector e foi recebido no aeroporto pelo governador em exercício do Zaire, Regerio Eduardo Zabila, que o conduziu a visitar a nova Central Elétrica a gás, a base logística de apoio às empresas petrolíferas, Kwanda e o projecto residencial Cooperativa Cajueiro com 189 casas unifamiliares (Fonte: Angonotícias, 2009-01-28).

Liberado Teste de Longa Duração em Tupi

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio-Ambiente) emitiu a licença prévia para a Petrobras realizar o Teste de Longa Duração do prospecto de Tupi, no bloco BM-S-11, na Bacia de Santos (5 a 8 bilhões de barris de reserva). A estatal deve iniciar em fevereiro o lançamento da linha de produção e da árvore de natal do TLD. O primeiro óleo está programado para 30 de março.
Está prevista a produção alternada em dois poços, em lâmina d’água de 2.200 m. O teste vai durar cerca de 15 meses e deve produzir algo em torno de 15 mil barris/dia de óleo leve.
A audiência pública para análise do projeto piloto de Tupi, previsto para dezembro de 2010, deve acontecer no mês de março, provavelmente, no município de Niterói (RJ). O órgão ambiental aguarda agora o EIA/Rima do projeto, que deve ser encaminhado pela Petrobras ainda em 2008. (Fonte: Energia Hoje - Felipe Maciel)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Petróleo fraco e crédito limitarão planos da Petrobras

Grande parte do setor de energia do Brasil acredita que a companhia estatal Petrobras não será capaz de executar seu plano de cinco anos para aumentar os investimentos em 55 por cento. "O plano da Petrobras é um trabalho de ficção, é um exercício acadêmico que será revisado nos próximos anos", disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
As ações das empresas de serviços e equipamentos do setor de petróleo subiram após a Petrobras ter anunciado na sexta-feira passada planos de investir 174,4 bilhões de dólares até 2013, quantia 55 por cento maior em relação ao plano de 2008-2012, de 112,4 bilhões de dólares. Outros importantes produtores de matéria-prima estão reduzindo os gastos em meio ao declínio dos preços das commodities e à fraqueza do mercado de crédito.
Céticos observaram que historicamente, a Petrobras gastou entre 85 e 95 por cento do seu orçamento com investimentos. Muitos projetos foram anunciados quando os preços do petróleo estavam bem acima de 100 dólares o barril. A companhia adiou o lançamento do seu plano de investimento quatro vezes nos últimos seis meses devido à deterioração da economia global. Analistas esperavam que a Petrobras fosse limitar seus grandiosos projetos para se adequar à queda nos preços do petróleo. Muitos analistas dizem que o plano reflete mais as necessidades do governo do que as do mercado. Eles afirmaram que o presidente Luiz Inacio Lula da Silva tentará ajudar seu escolhido para sucessor nas eleições de 2010, quando encerra o segundo mandato. Lula foi o primeiro presidente da República a comparecer a uma reunião de trabalho do Conselho de Administração da Petrobras, na última sexta-feira, em Brasília.
Mônica Araújo, analista da corretora Ativa, declarou que os gastos com exploração e produção eram compreensíveis, dada as amplas reservas na camada do pré-sal descobertas recentemente. A companhia elevará os investimentos na área para 104,6 bilhões de dólares, contra 65,1 bilhões de dólares anteriormente. Mas ela ficou perplexa com o crescimento dos gastos com a área de Abastecimento --um aumento de 47 por cento, ou quase 14 bilhões de dólares--, em uma série de refinarias em Estados onde o governo está tentando reforçar o apoio de partidos aliados e eleitores. "A expectativa de que a companhia apresentasse um plano mais coerente com o setor de petróleo e às condições de financiabilidade deixam a sensação de um plano ousado e arrojado e, portanto, será difícil executá-lo sem arriscar a estrutura de capital da companhia", explicou Mônica em um relatório. Administrações anteriores frequentemente utilizavam a Petrobras para ganhar votos em ano de eleição. "Não seria surpreendente ver os preços do combustível da Petrobras mais baixos em 2010", afirmou um gerente de um fundo de investimentos multinacional, em São Paulo. "Mas se o candidato do Lula não ganhar, você pode jogar fora esse plano de investimento".
As vendas de combustível no Brasil respondem por quase metade das receitas da Petrobras. A redução dos preços tornará a companhia mais dependente de financiamento externo, que tem sido escasso. A Petrobras tem um saudável fluxo de capital anual de mais de 100 bilhões de dólares por ano, que até agora está sendo usado para financiar a maior parte dos seus investimentos. No passado, a companhia utilizou seu próprio capital para ancorar 80 por cento dos seus investimentos, lembrou Nelson Rodrigues de Matos, analista de energia do Banco do Brasil. "Agora nós estamos falando em 65 por cento das necessidades de crédito sendo abastecidas pelo mercado de capitais", disse o analista. "Eu não estou dizendo que esse plano não é possível, mas se for, será totalmente dependente da alta dos preços do petróleo, da melhoria dos mercados de crédito e da estabilidade dos preços dos equipamentos e serviços". A Petrobras recebeu 11,9 bilhões de dólares para 2009 e outros 10 bilhões de dólares para 2010 do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) a taxas favoráveis e prazo de 30 anos. "O BNDES salvou a Petrobras", declarou de Matos. "Mas 2009 não é o problema. Eles terão que investir 36 bilhões de dólares por ano a partir de 2010 para cumprir o plano e não está claro de onde virá esse capital extra agora".
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse que já conseguiu 5 bilhões de dólares do setor privado em 2009, com prazo de dois anos, mas analistas afirmaram que a companhia buscava o dobro dessa quantia. "Em 2009, o BNDES pode financiar uma grande parte das necessidades de crédito da companhia", disse o analista Vladimir Pinto em um relatório do Unibanco (Fonte: Estadão. 2009-01-27).

Angola se torna maior fornecedor de petróleo à China


Angola se tornou o maior fornecedor de petróleo à China, ficando à frente da Arábia Saudita, afirma nesta sexta-feira o jornal China Daily, num suplemento especial de quatro páginas dedicado ao país africano.

“Angola ultrapassou recentemente a Nigéria como principal produtor de petróleo em todo o continente africano e há poucos meses tornou-se o maior fornecedor de petróleo à China, à frente da Arábia Saudita”, diz o artigo de abertura do suplemento.

No texto, intitulado “Crescimento mútuo marca parceria sino-angolana”, Angola é descrita como “um gigante africano que depois de muitos anos de guerra, alcançou a estabilidade e cuja economia tem crescido cerca de 20% (em média, ao ano)”.

Devido ao petróleo, Angola se tornou também o maior parceiro comercial da China na África e grandes empresas chinesas estão envolvidas no programa angolano de reconstrução nacional, que conta com um financiamento chinês estimado em US$ 5 bilhões (Fonte: Angonoticias, 2009-01-23).

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Proprietários e inquilinos do mar Cáspio: Entre a fome, a sede e os carros (cap. III)

Em 1876, quando os irmãos Nobel instalaram sua companhia (Branobel) na cidade de Baku – capital do atual Azerbaijão – e iniciaram a exploração em larga escala do petróleo do Mar Cáspio, já se fazia notar o potencial petrolífero da região. Conhecida como “a capital do ouro negro” e responsável por 50% da produção mundial de petróleo no início do século XX, Baku teve o curso de sua história completamente alterado ao ser apropriada pelos soviéticos em 1920, o que naturalmente afastou toda a produção do Mar Cáspio dos grandes consumidores capitalistas. No entanto, esse afastamento não significou o esquecimento do tesouro oculto no maior lago do mundo. O próprio Adolf Hitler, após o fracasso em tomar Moscou, decidiu abrir uma nova frente em terras soviéticas para apoderar-se de Baku, mas acabou contido em Stalingrado.
Passados quase trinta anos do esfacelamento do bloco soviético, o Mar Cáspio volta à ordem do dia. Em seus mares – por vezes ultra-profundos – estima-se que haja em torno de 160 bilhões de barris a serem extraídos, o suficiente para um longo período de prosperidade e muito mais do que o necessário para reorganizar a dinâmica geopolítica global.
Apesar da elevada complexidade política da região, o Mar Cáspio ainda surge como uma alternativa menos incerta para o Ocidente do que os produtores filiados à OPEP. A mesma vantagem vale também para a China, que ainda conta com a segurança de manter seus fornecedores por perto. Para a Ásia Central e países periféricos (ex: Turquia), é a promessa de força política e consolidação econômica através dos dutos que cruzam seus territórios. Para a Rússia, é a possibilidade de aproveitar-se do considerável aumento de reservas em sua área de influência e de firmar-se como principal ponte entre a Europa e o Mar Cáspio.
No entanto, nem tudo são flores neste jardim. Com essa profusão de riqueza cada vez mais próxima, todos os países olham em torno com desconfiança, temendo perder suas vantagens para o vizinho. Assim as rivalidades se sublinham, os obstáculos vêm à tona e a situação assume formas indefinidas.
A divisão dos setores correspondentes a cada país é um primeiro problema. Quando o Mar Cáspio dividia-se apenas entre a Pérsia (Irã) e a antiga URSS, a demarcação parecia simples: a fronteira marítima deveria ser uma extensão natural da fronteira terrestre. Hoje, com cinco países envolvidos na partilha (são eles: Rússia, Azerbaijão, Cazaquistão, Turcomenistão e Irã), a situação é outra. Embora a atual divisão supostamente siga as avaliações de um tratado estabelecido entre Rússia, Cazaquistão e Azerbaijão – o qual divide o Mar Cáspio de acordo com a dimensão da costa de cada país ribeirinho – o Irã afirma desconhecer esse tratado e clama por uma divisão igualitária, de 1/5 para cada país (o que lhes favoreceria, pois o país conta hoje com a menor parte, algo como 13%).
O maior atrito causado por esta partilha ocorre entre Irã e Azerbaijão. Este último, por enquanto, tem tratado a questão com cautela, e promete não explorar as regiões em disputa até que se chegue a um acordo. No entanto, neste meio tempo o Azerbaijão estreita relações com os EUA e assiste o Irã aproximar-se da Armênia, seu adversário histórico e localizado a apenas 30 milhas da rota de escoamento do petróleo de Baku via Turquia. Os dutos, aliás, constituem-se em uma outra questão de fundamental importância geopolítica. De um lado, os maiores produtores (Azerbaijão, Turcomenistão e Cazaquistão) aguardam pelas melhores propostas; de outro, os países com maior força econômica/bélica (Rússia, Irã, China e EUA) ocupam-se do jogo político.
Em primeira instância, a Rússia se beneficia da vantagem de ser o fornecedor mais “direto” da Europa. Como todas as rotas de alguma maneira devem chegar ao continente europeu, o país pode ser considerado aquele com o maior potencial de domínio sobre esta riqueza. Sua forte influência sobre o Azerbaijão e o Cazaquistão também pesa a seu favor. Hoje, o principal duto russo é o de Baku-Novorossiysk, e existe a proposição de expandi-lo através do Mar Negro até a Turquia.
A Turquia é um país-chave nesta dinâmica geopolítica. Em seu território está construída grande parte da rota Baku-Cehyan, favorecida pelo governo e companhias americanas e também favorável aos interesses europeus (visto que desemboca no Mediterrâneo). Por outro lado, os turcos também abriram negociações com os russos, adquirindo cada vez mais poder de barganha. Uma nova ligação com Baku (passando pela Geórgia) e projetos envolvendo a exportação do gás iraniano também fazem parte dos planos da Turquia.O Irã vive o problema de estar isolado na política do Mar Cáspio. Embora tenha a vantagem de poder escoar seus recursos para o Golfo Pérsico – e apesar das relações amigáveis com Turquia e Turcomenistão – as desavenças com outros Estados e com o governo americano ainda impedem o país de despontar. O Irã poderia, por exemplo, exportar seu gás para a Índia, no entanto precisaria passar por Afeganistão e Paquistão, o que é dificultado por sua política agressiva com os aliados dos EUA.
Os americanos certamente não se colocam de fora desta partilha. Seu projeto mais ambicioso envolve a construção de um duto no Afeganistão ligando o Turcomenistão ao Mar Arábico, a partir de onde o petróleo seria repassado para o promissor mercado asiático sem ter que atravessar regiões mais distantes e conflituosas como o norte da China e o Golfo Pérsico.
A China, embora disponha da fronteira com o Cazaquistão – que sozinho possui mais da metade de todas as reservas estimadas – sofre com a questão da província separatista de Xinjiang. A região, que mesmo após o comunismo manteve-se firme em suas tradições, é um obstáculo considerável tanto para o consumo chinês quanto para suas ambições em relação ao mercado asiático.
Como fica evidente, o maior fator de complicação na dinâmica geopolítica do Mar Cáspio tem uma resposta simples: o grande número de países envolvidos. O inevitável jogo de interesses dos países envolvidos acaba fazendo emergir velhos e novos conflitos, que através de alianças ganham proporções perigosas. Recentemente, assistimos a uma séria crise de gás envolvendo a Rússia e a Ucrânia, quando os russos decidiram praticamente quintuplicar o preço do gás fornecido para a Ucrânia e, diante da recusa, cortaram o suprimento ucraniano em pleno inverno (ignorando o fato de que grande parte do gás exportado para o resto da Europa passa necessariamente pelo país). O perigo de se atravessar território estrangeiro com oleodutos e gasodutos é este, e no caso do Mar Cáspio torna-se um perigo necessário. Nas últimas semanas, a operação militar russa dentro da Geórgia foi mais do que apenas a conseqüência de um conflito local: foi uma demonstração de força de quem não pretende deixar de dar as cartas na região.
A verdade é que, embora a riqueza do Mar Cáspio seja inquestionável, o preço que esta riqueza custará e a maneira como será aproveitada ainda são bastante incertos. Com tantas fatias para repartir, o bolo pode não ser tão grande como na imagem que vemos dele (Fonte: Mauro Kahn & Pedro Nobrega - Clube do Petróleo - Leia outros artigos e os primeiros desta série acessando o site www.clubedopetroleo.com.br).

A Inflação dos Alimentos e o Meio Ambiente: Entre a fome, a sede e os carros (cap II)

Quando nos deparamos com alguma crise, nossa atenção tende sempre a recair sobre relações de causalidade direta. Ao se falar, por exemplo, na crise da água, é natural que transbordem campanhas apelando para a redução do consumo doméstico. No entanto, ao assumirmos este tipo de abordagem, ignoramos outros hábitos que, postos em números, demonstram-se muito mais prejudiciais. Neste artigo, nos dedicamos a analisar um deles – o alto consumo de recursos naturais para produção de carne bovina – que consiste em um pequeno capricho na nossa dieta, porém um grande impacto em nosso meio ambiente.

Pesquisas apontam para um explosivo aumento per capita no consumo da carne no lugar dos vegetais, e estima-se que até 2020 esse aumento seja de mais 50% (em especial graças às adesões de China e Índia aos hábitos alimentícios do Ocidente). Nossa razão para preocupação vai muito além de uma alimentação saudável: engloba os expressivos gastos envolvidos na produção da carne. Ainda permanecendo na questão da água, é suficiente lembrar que, para produzir-se 3 kg de carne bovina, gasta-se tanta água quanto uma pessoa tomando um banho diário de chuveiro, durante cinco minutos, por um ano.

A partir de estimativas do Conselho Mundial de Água, para produzirmos um quilo de batata gastamos de 100 a 200 litros de água (lembrando que é possível produzir mais de 23.000 kg por hectare de batata no Brasil). Entretanto, se desejamos carne bovina acompanhando a batata, devemos nos preparar para consumir em média 13.000 litros de água por quilo (com uma produção em torno de apenas 47 kg de carne equivalente-carcaça/ha). A situação se agrava quando analisamos a energia gasta através de todo o processo. Fora os gastos com combustível para transportar os grãos que alimentam o gado, é necessário manter em funcionamento tratores, caminhões e equipamentos para preparar o gado até ele chegar em nossas mesas. Ao confrontar estes aspectos, enxergamos com maior nitidez o impacto que o aumento do petróleo causa na inflação dos alimentos.

Outro ponto de interesse para nós é a poluição causada pela criação de gado. Segundo um relatório das Nações Unidas, o gado é responsável pela emissão de 18% dos gases poluentes. Além disso, a pecuária também apresenta altos índices de esgotamento do solo. Sabe-se, por exemplo, que um terço de todo o território próprio para cultivo dos EUA foi definitivamente perdido por erosão.

A poluição das águas é um caso à parte. Estima-se que a quantidade de resíduos gerados pela agropecuária (durante todos os níveis do processo) supere todas as fontes industriais e municipais combinadas. Segundo a Embrapa, a poluição gerada pelo gado entre os anos 1990 e 1994 praticamente igualou a poluição gerada pelo setor energético.

Embora não seja a pretensão de nossos argumentos criar uma sociedade vegetariana – seria exagero propor a exclusão da carne de nossa dieta – não é difícil constatar que existe um excesso em nosso consumo, desnecessário e prejudicial para todos: para nossa saúde, nosso meio ambiente e nossa economia. Percebam que, com a entrada no mercado de milhões de novos consumidores asiáticos, a situação se desenha de maneira perturbadora.

Se no passado muitas vezes não havia solução senão caçar (quando não era tempo de colheita, etc.) – e mesmo assim nossos ancestrais consumiam muito menos carne (além de não precisarem alimentar sua caça) – hoje temos uma vasta gama de possibilidades de nutrição, consideravelmente mais adequadas para a quantidade de pessoas que habitam o planeta e para os novos bilhões que habitarão em um futuro próximo. A plantação de frutas e vegetais em larga escala, os quais demandam gastos naturais mínimos e são compostos de um importante valor nutritivo, é um exemplo. Outros são a soja, o trigo e assim por diante. Em um mundo sem alimentos, fica a dúvida: é válido gastar 7 quilos de soja para gerar um quilo de carne? (Fonte: Mauro Kahn & Pedro Nobrega - Clube do Petróleo - Leia outros artigos e os primeiros desta série acessando o site www.clubedopetroleo.com.br).

Entre a fome, a sede e os carros (cap. I)

A partir da próxima segunda-feira, o Clube do Petróleo inicia uma série de artigos apresentando algumas tendências geopolíticas e ambientais que prometem marcar as discussões das próximas décadas e definir os rumos da nova organização mundial. Pretendemos, através de um compreensivo estudo, chegar a um modesto e objetivo rascunho do que acontece hoje à nossa volta, bem como traçar perspectivas futuras e, naturalmente, observar possíveis maneiras de lidar com esta nova realidade.
Em um primeiro momento, buscaremos analisar a questão do preço crescente dos alimentos – levando em conta seu vínculo (geralmente esquecido) com nossa própria cultura alimentar – e também expor o quanto pequenos sacrifícios em nossos hábitos alimentares já poderiam minimizar de maneira significativa a demanda dos recursos naturais necessários (incluindo a água e a energia gerada a partir do petróleo, vital para o processo de “produção” dos alimentos).
Outra temática será a água e seu desperdício, essencialmente devido ao uso inadequado, à má distribuição e à desastrosa e crescente poluição. Interessante observar como o maior potencial de água do planeta costuma estar devidamente preservado em regiões onde não se aglomeram grandes populações, em contrapartida com a água escassa e geralmente poluída das regiões mais densamente povoadas. O ponto de suma importância é exatamente pensar como faremos para reduzir a poluição e garantir que estes recursos hídricos fluam até os lugares onde a demanda é maior.
Teremos oportunidade de analisar também a crise energética mundial, explorando em especial a questão da balança de produção/consumo, a qual aparentemente acusa um desequilíbrio de complexa reversão, uma vez que, apesar do elevado preço do petróleo, a frota de automóveis mundial continua em rápida expansão (potencializada pelo aumento progressivo da frota chinesa e indiana). Tanto a China quanto a Índia, assim como os EUA, mantêm uma política de tributação sobre os derivados que vêm estimulando o consumo, evidentemente agravando a questão.
Outro foco de nossa atenção – assunto que não poderíamos deixar de analisar em se tratando de uma nova ordem mundial – será a evolução econômica da China e as maneiras como a nova potência poderá contornar os obstáculos gerados pela falta de recursos naturais finitos (entre eles a água) e sustentar sua expansão meteórica. Sabemos que hoje a potência emergente já coloca-se em busca de fornecedores de petróleo, gás natural e inclusive terras para a geração de alimentos em países do continente africano e até mesmo no vizinho Cazaquistão – o que conseqüentemente nos remete à complexa situação geopolítica envolvendo o Mar Cáspio, região que há muitos anos se apresenta como uma promessa de novas reservas de petróleo e gás suficientes para equilibrar o aumento do consumo mundial e amenizar os graves problemas energéticos do mercado europeu, da China e do Japão.
Será com estes temas e outros pontos em torno deste eixo que contamos poder identificar algumas das mais relevantes causas que limitam a humanidade em seu crescimento objetivo e que a levam a cometer equívocos e ignorar oportunidades relativamente simples de evitar a poluição do solo, da água e do ar. Enquanto esperamos o tempo passar, prosseguimos desperdiçando nossas energias não-renováveis e todo o potencial de nossa espécie (Fonte: Mauro Kahn & Pedro Nobrega - Clube do Petróleo - Leia outros artigos e os primeiros desta série acessando o site www.clubedopetroleo.com.br).

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Presidente da Opep espera que corte de produção ajude preços


A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) está fortemente comprometida com seu maior corte de produção da história, que deve ser suficiente para impulsionar os preços da commodity que chegaram a menos de 40 dólares o barril, disse o presidente do grupo à Reuters nesta terça-feira.


Em sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo no começo do mês, Botelho de Vasconcelos também disse que a Opep não deve se reunir antes da próxima reunião formal do cartel, em 15 de março, em Viena. "Em março nós iremos nos reunir para avaliar os cortes acordados em dezembro. Mas eu acredito que se todos os cortes forem feitos dentro do prazo programado, haverá um impacto no mercado que levará a uma tendência positiva em termos de preços do petróleo", disse Vasconcelos, que também é o ministro do Petróleo de Angola. "Eu acredito que todos os cortes estão sendo realizados, apesar de nem todos países poderem aderir ao acordo de corte no primeiro dia."


Os ministros do petróleo da Opep concordaram no último mês em remover 2,2 milhões de barris por dia a partir de 1o de janeiro, em uma corrida para equilibrar o fornecimento ante o rápido declínio da demanda por combustível (Fonte: Reuters, 2009-01-20).

Petrobras é primeira em índice ético de suíços na área de petróleo


A Petrobras é apontada como a companhia com melhor reputação ética entre as multinacionais do petróleo e gás, num índice anual publicado hoje na Suíça. Só outra companhia brasileira aparece entre 541 multinacionais: a Vale, que fica em oitavo lugar entre as dez primeiras na área de mineração.


O índice anual de ética foi publicado pela empresa suíça Covalence, que há quatro anos mede responsabilidade social, desenvolvimento sustentável, investimento ético e reputação das companhias como maior capitalização nas bolsas.


Assim como existem Moody´s ou Fitch para classificar risco-país, a Covalence quer ser a agência de classificação social das empresas. Ela baseia seu índice em informações publicadas na Internet, originárias de oito mil fontes em inglês, francês, alemão e espanhol.


Essas informações são julgadas positivas ou negativas por uma equipe de analistas seguindo 45 critérios, como impacto ambiental da produção, promoção social, gestão de detritos, informação ao consumidor, inovação ecológica de produtos, presença internacional, riscos ambientais, padrões trabalhistas, política anticorrupção.

Segundo o diretor da Covalence, o índice vem sendo usado pelas próprias companhias, e é divulgado no setor financeiro pelas agências Bloomberg, Thompson e Reuters.

Este ano, o índice global de ética aponta como líderes este ano o banco britânico HSBC, a companhia americana Intel e a britânica-holandesa Unilever. Enquanto a situação da maioria dos outros bancos internacionais caiu, inclusive por causa das 293 mil demissões anunciadas no rastro da crise, o HSBC se sai bem, anunciando projetos ambientais e inovadores, segundo a empresa.


Entram na lista das dez primeiras a Xerox (5º), General Electric e DuPont (10º), substituindo IBM , Hewlett-Packard e Toyota.

A Petrobras aparece como líder entre as companhias de petróleo e gás, seguida pela canadense Suncor Energia e pela StatoilHydro da Noruega. No ano passado, Petrobras tinha ficado em sétimo lugar, que agora ficou com a BP britânica, que justamente tinha sido a líder em 2008. Globalmente, a Petrobras foi classificada em 38º posição na lista de 541 multinacionais mais éticas.


O diretor da Covalence explicou que os dados foram levantados até o mês de novembro. Portanto, não levou em conta a exclusão da Petrobras do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) - índice financeiro para empresas que minimizam os impactos ambientais de suas ações -, por causa da polêmica sobre enxofre na gasolina. A Petrobras se retirou depois do Instituto Ethos.

Quanto a Vale, globalmente ficou em 201 posição. E no setor de mineração, sua posição é bem atrás das concorrentes como Alcoa, Rio Tinto e AngloAmerican, mas melhorou suas posições (Fonte: Valor Online/O Globo, 2009-01-20).

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Exxon faz descoberta de megacampo de petróleo na Bacia de Santos


Uma das notícias mais aguardadas nos últimos dias sobre exploração de petróleo na região do pré-sal nos últimos dias finalmente se materializou.



A ExxonMobil, maior petrolífera privada do mundo, notificou à Agência Nacional de Petróleo (ANP) a descoberta de petróleo no bloco 22 da bacia de Santos.



Trata-se de uma das áreas com mais potencial do pré-sal de Santos e que pode ter reservas do mesmo porte das encontradas no campo de Tupi, onde a Petrobras estima existir de 5 a 8 bilhões de barris de petróleo equivalente.



Qualquer que seja o volume, são grandes as chances de que a área abrigue um campo gigante. Mas nenhuma empresa é obrigada a detalhar estimativas de reservas neste estágio da exploração e o que a Exxon fez foi informar indícios à ANP.



O BM-S-22, que vem sendo chamado informalmente de "Azulão", é o único bloco do pré-sal operado por uma multinacional e também o único onde a Petrobras, que tem presença dominante na área, é sócia minoritária, com participação de 20%. (Fonte: Em Tempo Real, 2009-01-21).

PETROBRAS e PDVSA divergem por preço de petróleo


A Petrobras está encontrando dificuldades para fechar acordo com a estatal venezuelana PDVSA sobre o preço do petróleo que será fornecido pelo país vizinho para a refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, informou nesta quarta-feira o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa.


Projeto em parceria das duas estatais, sendo 60 por cento para Petrobras e 40 por cento da PDVSA, a refinaria já tem acordo de acionistas e estatuto, segundo Costa, mas ainda não conseguiu fechar um preço para a compra do pesado petróleo da Venezuela que pelo contrato seria fornecido para a refinaria.


Segundo Costa, ao contrário da Petrobras, os venezuelanos não querem utilizar um parâmetro internacional como referência para o preço do petróleo. "Nós queremos preço de mercado para o contrato, a referência pode ser (tipo) Brent ou WTI, eles querem mais (valor maior)", disse ele a jornalistas após inauguração do centro de integração do Comperj, em São Gonçalo (RJ). "Já fechamos o acordo de acionistas, o estatuto, mas não fechamos o contrato de fornecimento de petróleo...a PDVSA não fez nenhum aporte na refinaria até agora, todo o dinheiro foi da Petrobras, estamos fazendo sozinhos", disse o executivo.

Ele explicou que a expectativa era de ter fechado acordo sobre o preço do petróleo no ano passado, porém não houve consenso. Costa garantiu no entanto a construção da refinaria mesmo que os venezuelanos desistam do investimento. "O projeto não vai parar, a intenção é fechar com a PDVSA...se demorar não vai parar o projeto, petróleo pesado nós temos o suficiente para fornecer", garantiu.


O executivo destacou que as propostas de licitações para a construção da refinaria já recebidas pela Petrobras ficaram acima das expectativas da empresa e serão canceladas para reavaliação, como ocorreu recentemente com as licitações das plataformas P-61 e P-63. "Vamos cancelar mais de um pacote da Abreu Lima por preço excessivo, vamos chamar as empresas para ver o que aconteceu e exigir uma redução significativa", afirmou ele, sem dar detalhes.


Já no caso do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), cujo Centro de Integração que visa qualificar e capacitar mão de obra local, o valor do investimento, de 8,5 bilhões de dólares, deverá ser revisto para cima no novo plano de negócios que a Petrobras divulga na sexta-feira, se aprovado pelo Conselho de Administração. Segundo Costa, o motivo seria o dólar baixo da época do projeto comparado ao atual.

BALANÇA
O diretor não quis antecipar o saldo da balança comercial da Petrobras em 2008, limitando-se a comentar que apesar do déficit de 1,3 bilhão de dólares acumulado até novembro, o mês de dezembro foi bom para a companhia por conta de um grande volume de exportações -recorde de 620 mil barris por dia- e a queda na importação de diesel com a economia menos aquecida. "Os números finais ainda não foram contabilizados, o que podemos dizer é que dezembro foi um mês muito bom para a balança de líquidos da Petrobras", disse Costa sem especificar se o volume de dezembro foi suficiente para zerar o déficit.


O diretor descartou ainda mudança nos preços da gasolina e do diesel no curto prazo, afirmando que a empresa vai manter a política de não transferir a volatilidade internacional para o mercado interno. "A Petrobras trabalha com horizonte de longo prazo e não passa para o mercado a volatilidade. Na hipótese desse preço estacionar na faixa de 30, 30 e alguns dólares, vamos fazer uma reavaliação...esse momento ainda não chegou", afirmou (Fonte: Reuters/O Globo, 2009-01-21).