quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Angola emerge como potencia petrolífera regional

A primeira visita de cortesia do secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Abdallah el-Badri, a um país membro realizou-se em um momento de grande orgulho nacional para os angolanos. Na noite da chegada de El-Badri à capital de Angola, no final do mês passado, milhares de fãs do basquete locais animadíssimos tomaram as ruas de Luanda para comemorar a vitória do país sobre Camarões no final do campeonato africano de basquete, Afrobasket. Foi uma demonstração forte de nacionalismo, cinco anos depois de uma prolongada e devastadora guerra civil. As comemorações refletiram o orgulho de Angola pela sua rápida ascensão como referência nacional, que ultrapassa as façanhas na área do esporte. Um chamado dividendo da paz e o aumento das receitas petrolíferas estão impulsionando a expansão econômica que levou os analistas locais a apostar que poderá superar a Nigéria como principal país regional, dentro de alguns anos. "Angola está em pleno boom", disse El-Badri, em uma entrevista durante sua visita. "Seu povo é muito amistoso, no que me diz respeito". Angola, uma das economias que mais crescem no continente, tornou-se o 12º membro da Opep em meados de dezembro. Foi uma importante realização para o cartel petrolífero, que bombeia aproximadamente 40% do atual consumo mundial de petróleo de 86 milhões de barris diários. Angola é o segundo maior produtor da África Subsaariana, depois da Nigéria, com uma produção de cerca de 1,65 milhão de barris diários, e com ambições de aumentar em 20% sua produção petrolífera no próximo ano, para 2 milhões de barris/dia. "O ingresso de Angola na Opep assinala para o mundo que se tornou um importante produtor de hidrocarbonetos, e isto é importante em termos de credibilidade internacional", disse David Fyfe, analista de produção petrolífera da Agência Internacional de Energia (AIE). O surgimento de novos participantes nos mercados petrolíferos mundiais ocorre no momento em que os principais consumidores de energia em todo o mundo procuram reduzir sua dependência do petróleo da região do Oriente Médio, hoje extremamente volátil. Os consumidores americanos estão dependendo cada vez mais de produtores como a Nigéria e Angola em matéria de petróleo, que é mais fácil de refinar em produtos como a gasolina devido ao seu baixo teor de enxofre. Pelo menos no que se refere à produção de hidrocarbonetos, Angola está rapidamente se aproximando da Nigéria. "Não há muitos produtores no mundo que deram passos tão grandes" como os de Angola, cuja produção dobrou de 2000 a 2006, diz Fyfe. Somente produtores que não fazem parte da Opep, como o Brasil e a Rússia, registraram um avanço tão fantástico na produção de petróleo, nos últimos anos. As metas de produção de Angola não estão muito distantes das da produção atual da Nigéria, de 2,18 milhões b/d. A violência política na região do Delta do Niger e os atrasos de importantes projetos no setor petrolífero afetam cerca de meio milhão de barris diários do total da capacidade de produção nigeriana, segundo estimativas de Fyfe. O isolamento natural dos campos angolanos localizados em alto mar, onde é bombeada a maior parte do petróleo do país, também contribui para reduzir os riscos para a segurança relacionados às operações petrolíferas. A economia angolana poderá chegar a uma expansão de 30%, este ano, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para o período 2008-2012, o Fundo prevê que o crescimento econômico do país será em média de 7,5%. O governo tem previsões menos ambiciosas, projetando um crescimento acima de 19%, este ano, depois que o Produto Interno Bruto (PIB) do país saltou para cerca de 18%, em 2006. O Banco BPI de Portugal, que gere ampla rede de bancos de varejo em Angola, destacou em uma recente nota para os investidores o potencial de crescimento e o dinamismo econômico da antiga colônia portuguesa. A nota citava um estudo da Universidade Católica de Luanda, que projetava que a economia angolana superaria a da Nigéria até 2010. As diferenças econômicas e demográficas entre os dois países são consideráveis. A economia da Nigéria, que movimenta US$ 115,35 bilhões, e seus 134,4 milhões de habitantes fazem sombra à economia de US$ 43,76 bilhões e à sua população de 16,4 milhões de habitantes de Angola, segundo dados da Opep. Cristina Casalinho, analista do BPI, acredita que esta previsão ambiciosa será difícil de cumprir e dependerá em grande parte da produção petrolífera, que representa mais da metade da economia de Angola e 80% dos gastos públicos. O governo de Angola prevê que o setor petrolífero do país atrairá investimentos por um total de US$ 50 bilhões nos próximos seis anos, para garantir o cumprimento das metas da produção petrolífera, segundo a imprensa oficial. As metas de produção poderão ser reduzidas agora que o país é um membro da Opep, pois a organização estabelece os tetos de produção para seus integrantes a fim de manter um piso para os preços do petróleo. Durante sua visita, El-Badri discutiu a possibilidade de Angola ter uma cota de produção, algo que se acredita possa acontecer no próximo ano. Como o petróleo Girassol de Angola faz parte da cesta petrolífera de referência da Opep, este mês, El-Badri espera um compromisso total do novo membro da organização. Angola não "poderá agir por conta própria", pois desse modo terá muito a perder se os preços do produto baixarem e muito a ganhar com preços razoáveis, dise ele. A cesta de referência da Opep inclui petróleos dos membros do grupo, e fornece um quadro do valor da produção da organização. A cesta é tipicamente negociada abaixo dos contratos futuros do petróleo leve de referência da Bolsa de Mercadorias de Nova York. Greg Priddy, analista de energia global da Eurasia Group, uma empresa de consultoria de risco, acredita que o ingresso de Angola na organização representa mais um complicador no cartel, pois o rápido crescimento de sua produção poderá fazer com que seja mais difícil concordar com a fixação de uma cota. "Angola está obviamente experimentando uma grande projeção de seu status de produtor petrolífero", disse Priddy. "No longo prazo, será um membro mais ativo, à medida que a produção crescer". (Gazeta Mercantil)





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