sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Um plano ousado e estratégico


Os US$ 174,4 bilhões em investimentos que a Petrobras anunciou com seu Plano de Negócios 2009-2013 devem, na verdade, virar US$ 150 bilhões. A redução de cerca de 15% do valor – que, se confirmado, ainda será 33,5% maior que os US$ 112,4 bilhões do plano 2008-2012 – reflete os novos paradigmas que a petroleira traçou para o futuro com base no cenário global atual e nas possibilidades reais de diminuir custos. É o advento de uma nova forma de contratar os projetos previstos em carteira para os próximos cinco anos, com maior detalhamento e uniformização e menores pacotes de equipamentos e serviços. Assim, diversificando fornecedores, espera-se maior competição e, por consequência, menores preços.


Essa meta do ousado plano, que surpreendeu um mercado abalado pela crise econômica, é apenas um dos desafios que surgem para a petroleira brasileira nos próximos cinco anos. Outro deles, que também vai na contramão do cenário atual, diz respeito a seu nível de endividamento. Com a maior parte dos cofres mundo afora fechados e com os (poucos) abertos cobrando muito para liberar recursos, a Petrobras projeta aumentar sua alavancagem de 20%, como traçado no PN 2008-2012, para até 32,4%, chegando a 2013 a 25,5%. Uma sandice, diriam analistas, não fosse o fato de, pelo menos nos próximos dois anos – considerados o “período negro” da crise global –, o governo, via BNDES, garantir boa parte desse quinhão de dívidas. Serão US$ 12,5 bilhões este ano e US$ 10 bilhões em 2010.


O próximo ano, aliás, segundo o detalhamento do PN 2009-2013 apresentado a investidores, deverá ser chave para a petroleira reduzir investimentos e captações com a nova forma de negociar contratos. Tanto é assim que, nas projeções de captação de recursos no mercado em 2010 – um total de US$ 8,9 bilhões –, a Petrobras calcula que a diminuição do valor a ser investido vai derrubar para menos de US$ 4 bilhões a necessidade de captar de fontes além-BNDES. Ou seja, menos de 50% do valor projetado. “Não vamos legitimar os preços atuais”, frisou o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, durante a divulgação do plano para a imprensa. Nem que para isso, segundo o mesmo Gabrielli, a companhia tenha de ir para o exterior contratar, apesar de seu papel de vetor de crescimento da indústria nacional do petróleo.


De fato, se considerada a evolução do Capex entre os planos 2008-2012 e 2009-2013, é fácil verificar onde a Petrobras quer ganhar. O plano atual engloba US$ 111,2 bilhões incluídos no plano anterior e mais US$ 47,9 bilhões em investimentos em novos projetos. Há ainda outros US$ 8,1 bilhões que levam em conta mudanças em modelos de negócios e alterações de cronograma. Sobra então uma fatia formada por aumento de custos, mudança no escopo de projetos e taxa de câmbio, de US$ 23,4 bilhões. É esse valor que a companhia quer economizar.



Investimentos com critério


O PN 2009-2013 prova que a crise não intimidou a Petrobras em relação ao que ela almeja para o futuro: estar entre as maiores companhias de energia do planeta. Por isso está tudo lá no plano: quase US$ 105 bilhões em investimentos em E&P – dos quais US$ 28,9 bilhões no pré-sal – para que a produção total atinja 3,655 milhões de barris de óleo equivalente (BOE)/dia em 2013; aplicação de recursos no Comperj, na Refinaria do Nordeste (RNEST), em revamps em várias plantas e até mesmo nas Premium I e II para que a empresa se torne exportadora de derivados para a Bacia do Atlântico e o Oriente Médio e faça o Brasil ser autossuficiente em óleo diesel ainda este ano; investimento quase em dobro em Gás e Energia para garantir a instalação de mais dois terminais de GNL, a fim de exportar gás – situação impensável em um país que recentemente teve problemas de suprimento; e recursos garantidos na área de biocombustíveis, tanto para aumentar a produção de etanol (principalmente) e biodiesel aqui e no exterior como para criar infraestrutura de escoamento e exportação.


Toda essa ousadia da Petrobras, porém, tem seu pé na realidade. Não à toa a apresentação da petroleira para investidores lembra que quase metade dos projetos incluídos no plano ainda não foi aprovado e contratado pela Petrobras. Portanto, logo depois a companhia reitera que “apenas projetos com VPL (valor presente líquido) positivo e competitivo serão de fato aprovados e implementados. Prova de que as contas, por mais exuberantes que pareçam a princípio, continuarão sendo feitas continuamente no edifício-sede (Fonte: Brasil Energia, 2009-02-03).

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