quinta-feira, 30 de julho de 2009

Melhor petróleo do Brasil é extraído das profundezas da Amazônia


Retirada de 2.300 metros de profundidade é feita por 70 poços na selva.Supergasoduto de R$ 4,5 bilhões está em fase de acabamento.

De um campo de exploração no centro do Amazonas é retirado o petroleo de melhor qualidade do Brasil, além de gás natural. Uma atividade como essa em um ambiente tão sensível como a selva amazônica exige muitos cuidados.

Por esse motivo, o Campo de Urucu só é acessível por avião ou barco.

Ainda de longe já é possível ver uma chama onde menos se espera - no centro de uma floresta virgem. Em volta, uma pista de pouso, um polo de controle e 70 poços ligados por pequenas estradas. A boa quantidade de gás e a alta qualidade do petróleo que foram o que levou o Brasil a assumir o risco de iniciar a exploração em um ambiente tão delicado.

O petróleo de Urucu, que sai de uma profundidade de 2.300 metros é um tipo especial, leve, rico em produtos nobres e muito valorizado. É o melhor petróleo produzido no país. A extração não é grande - menos de 2% da produção brasileira - mas dá para abastecer grande parte da Amazônia.

Mais do que petróleo, Urucu produz gás. Dali sai todo o gás de cozinha consumido no Norte do país e em parte do Nordeste. Dos poços também sai um outro tipo de gás, o natural. Para aproveitá-lo, está em fase de acabamento um supergasoduto, que começa em Urucu, passa por Coari e chega a Manaus. O gás vai substituir o óleo que hoje é queimado em termoelétricas, pois polui menos e é mais barato.


"Você pode colocar energia em toda essa região a partir do gás que é transportado de forma mais limpa, porque volatiliza, não suja o ambiente", diz o gerente-executivo de Exploração da Região Norte e Nordeste da Petrobrás, Christóvan Sanches. O gasoduto vai custar R$ 4,5 bilhões, quase o dobro do previsto. A obra enfrentou chuvas, pântanos e inundações. Alguns tubos tiveram de ser transportados por helicópteros. Um levantamento das doenças que poderiam atacar os operários teve resultado assustador. “Quarenta e sete doenças tropicais: malária, leishmaniose e até febre do oeste do Nilo. A gente estaria sujeito porque tem uma ave migratória, que pousa na região, e poderia nos contaminar", explica Mauro de Oliveira Loureiro, gerente-geral da obra do gasoduto. O controle das doenças, no entanto, foi bem-sucedido. "Não tivemos nenhum caso de contaminação de malária durante a obra, mesmo tendo períodos em que quase temos nove mil pessoas trabalhando", diz Loureiro.

Todo o material usado em Urucu é trazido por balsas. A decisão foi isolar a área do resto da civilização. A construção de estradas de acesso poderia trazer posseiros e madeireiros para uma região de floresta virgem e rios limpos. No Rio Urucu, vê-se como a intervenção na natureza provocada pela exploração do gás e do petróleo é pequena e localizada. O porto Urucu surge de uma hora para a outra em meio a um ambiente preservado. Não foi preciso destruir uma larga extensão de floresta.


Rio traiçoeiro

O belo rio de águas escuras é traiçoeiro. A navegação exige perícia dos marinheiros. "Ele não tem espaço para você manobrar direito, é muito estreito, e você tem que ter bastante cuidado", conta o comandante do barco, Manoel da Silva. Quem antes vivia do trabalho duro e mal pago na exploração da floresta, hoje tem emprego com carteira assinada. "Nasci no interior, cortando seringa, fazendo roça", conta Juvenal Rodrigues Feitosa, de 55 anos.

Reportagem aberta para comentários. Deixe o seu no final do texto. O jardineiro Raimundo Ferreira da Silva, que cria mudas para reflorestamento é outro amazonense que se livrou da vida difícil de seringueiro para trabalhar em Urucu: "A gente pegou um dinheiro melhor, um trabalho mais seguro". O pessoal que trabalha no campo faz turnos, 14 dias de trabalho isolado na floresta por 14 dias de descanso com a família em Manaus e em outras cidades do Brasil. "A Amazônia acho que todo mundo tem um sonho em conhecê-la. Tem hora que eu estou trabalhando em Urucu e eu fico pensando, no mapa. A distância de Betim para cá. Nunca imaginei estar aqui", afirma Giovanini Araújo, mineiro de Betim.


Tempo livre


Difíceis são os momentos de descanso, quando a saudade da família bate forte. Sempre tem um jogo de dominó, muita conversa jogada fora e o suor da ginástica. Quem quiser, pode aproveitar a escola montada especialmente para os funcionários. Bilga Cândido da Silva é camareira em Urucu. Ela gostou do sistema que permite que ela fique 14 dias com os filhos nas folgas em Manaus. No campo ela consegue fazer o que sempre quis: estudar. "Você passa o dia trabalhando. À noite já vem para a escola e está ocupando aquele espaço que fica vago, com saudade da família. Está aprendendo e ainda ocupa o tempo", conta (Fonte: G1 - Globo, 2009-07-14).

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