domingo, 18 de março de 2007

Grupo de empresas brasileiras adquire a Companhia de Petróleo Ipiranga

Germano Oliveira - O Globo
Juliana Rangel - Globo Online
Será anunciado nesta segunda-feira, às 9h, num hotel em São Paulo, um dos maiores negócios do setor de energia dos últimos anos: a Petrobras, a Braskem e o Grupo Ultra informarão oficialmente a compra da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga, que atua nas áreas de petroquímica, distribuição de combustíveis e refino, além de ter participações em blocos de exploração e produção de petróleo.
No ano passado, as empresas do grupo Ipiranga faturaram R$ 31,5 bilhões, com aumento de 12% em seu resultado. O lucro líquido foi de R$ 533,8 milhões.
O acordo foi confirmado por fontes das empresas envolvidas na negociação e estaria avaliado em torno de US$ 1,5 bilhão (R$ 3,15 bilhões). O anúncio da aquisição seria feito neste domingo, mas foi postergado porque alguns detalhes ainda estavam sendo fechados. Neste domingo, o jornal "O Estado de S. Paulo" publicou a informação sobre a operação.
O negócio já esteve por ser fechado durante várias vezes, mas foi frustrado em função de desacordo entre os compradores em relação à distribuição dos ativos e entre os diferentes acionistas da companhia.
O modelo final foi apresentado e aprovado apenas na última sexta-feira, em reunião do Conselho de Administração da Petrobras. A Petrobras vê, como jóia da coroa no negócio, a área de distribuição.
Atualmente, a BR é lider no segmento, com cerca de 32% do mercado, atrás apenas dos postos de bandeira branca, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Mas, com a compra da Ipiranga, que está em terceiro lugar no ranking, a estatal passaria a ter mais de 50% do segmento no Brasil.
De acordo com o balanço anual do grupo Ipiranga, a distribuidora tinha 19,6% do mercado no ano passado, com aumento de 2,6% no volume de vendas, contra uma média de expansão de 2% do restante do mercado. O lucro líquido da unidade no período foi de R$ 160,9 milhões.
Para o sócio da consultoria Expetro, Jean-Paul Prates, a grande concentração de mercado que a Petrobras terá a partir da compra da Ipiranga não deverá despertar problemas no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
- Com a compra da Ipiranga, a Petrobras vai ganhar a hegemonia que ainda não possui na única de todas as áreas em que atua. Ela ficará disparada na frente das outras, mas não acho que as demais marcas queiram reagir a isso. Elas não têm evoluído quase nada no Brasil e já deram vários sinais de desmobilização - avalia.
Prates lembra que a Shell, por exemplo, já foi alvo de vários rumores de que poderia deixar a atividade de distribuição no país e focar apenas em Exploração e Produção, o que a empresa nega.
- Já a Esso faz apenas uma manutenção básica de sua presença no Brasil, mas também não demonstra interesse em se expandir, assim como a Chevron Texaco.
A Repsol, por sua vez, tem poucos postos no país, enquanto a italiana Agip vendeu, em 2004, seus ativos de distribuição para a Petrobras por US$ 450 milhões.
- o mercado, por um lapso do governo, vem enfrentando sérias dificuldades no setor de distribuição, sofrendo com a indústria de liminares e com a adulteração. Não há quem mostre entusiasmo em crescer no Brasil, à exceção da Ale e da Sat, que fundiram seus negócios no ano passado. Existem hoje mais de 200 distribuidoras cadastradas na ANP, mas apenas cerca de seis atuam com mais força no Brasil - diz.
A Braskem, que é controlada pela Odebrecht e pela Petroquisa, braço petroquímico da Petrobras, deverá ficar com a Ipiranga Petroquímica, que alcançou seu recorde de produção no ano passado, de 638 mil toneladas, e de vendas, de 636 mil toneladas. A Ipiranga Petroquímica teve um lucro líquido 17,5% maior em 2006, de R$ 321,8 milhões.
Já a refinaria, mesmo sem processar petróleo em função de sérias dificuldades financeiras, focou na produção de nafta petroquímica a partir do quarto trimestre do ano passado. Em função de participações em outras empresas do grupo, conseguiu, ainda assim, registrar um lucro líquido de R$ 164 milhões.
Para Jean-Paul, a compra da refinaria Ipiranga poderia ser estrategicamente importante do ponto de vista logístico para a Petrobras, mas não agrega muito ao negócio.
- A refinaria deve ser um ponto delicado da curva porque é mal localizada, pequena e difícil de operar. Talvez venha a ser reconfigurada para a produção de produtos específicos, mas há que se considerar que não há produção de petróleo ali perto. Pode ser aproveitada ainda como um centro logístico. (O Globo)

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