quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Pré-sal mais que dobrará demanda por aço e pessoal


A demanda por profissionais qualificados e por aço, importante matéria-prima para a construção de navios, refinarias e sondas de exploração petrolífera, mais que dobrará com o pré-sal, em relação ao atual plano de negócios da Petrobras, afirmou um especialista da estatal.
José Renato de Almeida, coordenador-executivo do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), chegou a essa conclusão fazendo uma simulação do impacto que os projetos já anunciados pela Petrobras terão para a demanda, em vistas das descobertas de petróleo sob a camada de sal.
"A necessidade passa de 1 milhão de toneladas de aço ao ano para 2,6 milhões de toneladas. A demanda de pessoas, como você tem projetos em lugares diferentes, é cumulativa. Então, a necessidade de qualificação, que era de 112 mil pessoas, tem um novo pico sinalizando cerca de 260 mil pessoas", disse Almeida a jornalistas, após sua conferência na Rio Oil & Gas.
De acordo com ele, essa demanda não inclui a necessidade que será gerada com a produção do petróleo na camada pré-sal e considera apenas atividades de exploração e refino já previstas.
A Petrobras já anunciou a construção de 40 sondas de perfuração (12 serão feitas no exterior), de 146 barcos de apoio, além de cinco refinarias - as duas premium (uma no Ceará e outra no Maranhão); a da Comperj, no Rio; a de Abreu e Lima, de Recife; e a ampliação da refinaria no Rio Grande do Norte.
De acordo com o coordenador do Prominp, a definição exata da demanda de equipamentos e profissionais poderá ser feita após o anúncio da revisão do plano estratégico da Petrobras, esperado para outubro deste ano.
"Quando a gente fala de pré-sal, envolve todo um plano de desenvolvimento da produção, o que estamos falando não tem plataforma", destacou ele, referindo-se aos cálculos feitos pelo Prominp.
Segundo ele, como a Petrobras precisa perfurar poços para delimitar os campos, ela já tomou a decisão de contratar a construção das 40 sondas.
A demanda por pessoal poderá variar dependendo da escolha dos locais para a construção de estaleiros, por exemplo.
"Os barcos de apoio, se forem feitos no Rio, já tem uma margem de pessoas, se for feito no Nordeste, tem que preparar gente nova", afirmou, lembrando que o tempo de construção também influenciará nos números.
"Temos uma infra-estrutura de formação profissional robusta. Na verdade, o nosso problema hoje é escala. Os trabalhadores que vamos precisar são os mesmos que a gente já tem, os equipamentos que vamos usar nas instalações, salvo algumas exceções, também... Mas o pré-sal significa aumento de escala."


INDÚSTRIA PEDE PLANEJAMENTO

A indústria de máquinas do Brasil diz ser capaz de atender boa parte das demandas para o pré-sal, mas avalia que há necessidade de um planejamento e de um estreitamento de relação entre a operadora petrolífera e as empresas produtoras de equipamentos.
"O que precisamos quando falamos do desafio de trabalhar em conjunto, e isso já está ocorrendo, é ter a informação antes da hora (sobre a necessidade de equipamentos)", afirmou José Velloso Cardoso, vice-presidente da Abimaq.
Cardoso disse ainda que a indústria de máquinas não teria problemas para ampliar a sua capacidade de produção, mas seria importante contar com mecanismos que permitam um maior capital de giro para as empresas. "A capacidade a gente resolve."
Ele concordou com a forte capacidade de geração de empregos traçada por Almeida, mas destacou que isso poderia ser ainda maior se o mercado de trabalho crescesse em atividades qualificadas como a de engenharia, e não apenas na indústria de cascos de navios.
Ricardo Pessôa, conselheiro da Abemi (entidade que reúne fornecedores), ressaltou que o setor nunca esteve tão "demandado", uma situação que supera a vivida na década de 70, em que o crescimento esteve acelerado.
"A indústria sempre antecipou as suas necessidades, mas jamais imaginou que iríamos chegar nesse ponto", declarou ele, reforçando que o governo tem que dar atenção especial para o desenvolvimento de tecnologias para o pré-sal. "Não temos engenharia para competir, isso tem que ser incentivado" (Fonte: O Globo Online, 2008-09-17).

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